Escrever em 2023 é para completos otários
- Renan Madz, enquanto dirige virtualmente seu Golf GTI 16V a 180km por hora em uma curva 3 sobre saltos e lombas em Argólis na Grécia, usando óculos escuro e jogando com apenas uma mão enquanto vira um shot de whisky no canto da boca que não está sorrindo sarcasticamente.
Você pode não conhecer esse rapaz que disse isso, ou sequer me conhecer, e provavelmente nem saiba a relação dele comigo, ou o contexto em que foi dito, mas ele está certíssimo. Pode ser que ele nem tenha dito isso exatamente dessa forma, ou nesse contexto que eu passei, mas na minha cabeça foi exatamente assim que aconteceu. Essa icônica frase que talvez ele nem mesmo tenha proferido totalmente é, entretanto, um fato inegável: escrever textos em 2023 é algo para completos idiotas.
Em um mundo com tantas possibilidades, onde os jovens fazem uploads constantes de 30 segundos com dancinhas e peripécias, reviews de jogos e filmes no tempo de um TikTok ou Stories, quem diabos iria querer ler alguma coisa? Tudo que preciso está na palma de minhas mãos, e com um simples deslizar de dedos posso passar de uma sensual dança do ventre (que faria os criadores dessa cultura revirarem em seus túmulos), para dicas de investimento em criptomoeda sem algum embasamento teórico ou econômico. Estamos vivendo uma utopia tecnológica. Ler, em 2023, também é para completos idiotas.
Você chegou no terceiro parágrafo e sua ação aqui está quase configurando como uma leitura. Melhor fechar agora, meu amigo ou amiga, ou todos os jovens e pessoas descoladas que sabem fazer a dancinha do Malvadão (espero que ainda seja atual essa referência) irão apontar pra você e rir gostosamente dizendo uns para os outros “Hahahaha olha lá, aquela pessoa está LENDO. Na Internet! Que trouxa!”.
(Link para o Tutorial do Malvadão 3, caso as pessoas pensem em reclamar que eu não dou créditos)
Caso você não se importe, entretanto, vou continuar com meu ponto: ler e escrever é para completos idiotas, como dizia meu amigo Madz. Quanto a ler eu já provei meu ponto. Agora sobre escrever, se ainda não está óbvio, a pergunta principal é: quem iria querer escrever se absolutamente ninguém quer ler? Ainda mais aquele amontoado de coisas chatas pra cacete que não querem dizer nada com nada e não chegam a lugar algum? Como queríamos demonstrar, escrever também é desnecessário, fique só com sua roupa de baixo no Stories do Instagram e você vai ver que o público vai apreciar muito mais.
Mas aí vem o ponto da virada: eu me importo com tudo isso que eu acabei de provar categoricamente aqui pra vocês por meios ultra-científicos com argumentos absurdamente sólidos? Acho difícil.
Primeiro porque eu sou certificadamente um otário, um completo idiota. Não no sentido literal, pois não existem (até onde eu saiba) certificações para otários. Mas, caso existisse, eu certamente passaria na prova sem nem estudar e poderia atualizar meu LinkedIn hoje mesmo com meu belo JPG oficial da Confederação Mundial de Otários (certificado CMO Advanced II). E não digo isso como um chororô, eu tenho muito orgulho inclusive. Não é fácil ser um completo Otário, as pessoas invejam demais. “A lá o Hyncão cara, porra um dia se Deus me permitir eu consigo ser tão imbecil quanto esse cara”, é o que diversas pessoas na internet e no mundo real pensam de mim diáriamente, com certeza. Força galera, quem sabe um dia eu lanço um curso e uma palestra quando conseguir um certificado oficial.
Segundo porque eu sou um grande mestre em escrever aquele amontoado de coisas chatas pra cacete que não querem dizer nada com nada e não chegam a lugar algum. Isso é minha arte. Veja bem: nesse momento exato eu já escrevi 607 palavras e não disse absolutamente nada de interessante. Eu sou o que a internet espera, eu sou alguém que faria meu grande amigo, possivelmente um dos maiores amigos, Madz, dizer “Cara, escrever em 2023 é para completos otários, e você é o homem para isso” com um grande sorriso no rosto. Quem sabe o sorriso seja por ele ter virado o whisky no começo do post, ou quem sabe por ele ter vencido a corrida no Dirt Rally 2.0, mas por hora eu vou levar esse sorriso comigo em meu coração como se fosse pra mim.
Então, sinceramente, não vejo motivos para não criar um Substack. Algo que será possivelmente um TikTok versão texto. Um TikTok longo e sofrível de você assimilar que irá ressoar dolorosamente na multidão de pessoas que não irão lê-lo. Um TikTok que você não queria estar vendo, mas é velho demais pra entender como o TikTok funciona e porque ele está recomendando para você vídeos de mães com maridos presidiários que dizem ser muito bom ter um marido preso, enquanto apontam fatos editados na tela, com animadas músicas tocando ao fundo. Essa vontade de criar um Substack veio de repente semana passada, enquanto contemplava esses fatos.
Mas a vontade passou.
Ok, eu havia percebido que era o cara perfeito para tal feito, mas será que o mundo merecia que eu simplesmente agisse de acordo com suas maquinações e caprichos? Talvez não, ou talvez apenas ainda não fosse a hora, ou talvez meu backlog de videojogos já estivesse grande demais para eu arrumar outra coisa inútil para gastar um tempo que eu não tenho. Resolvi deixar passar esse impulso, e focar em outras coisas mais agradáveis e edificadoras, como pensar em porque dizem que as mães morrem quando você deixa o chinelo virado de cabeça pra baixo.
Mas então, naquele final de semana, iria ocorrer uma experiência avassaladora em minha vida. Tal experiência seria o show da Pitty, na festa Julina de Sorocaba. Eu saí daquele show completamente renovado e revigorado. Algumas coisas me surpreenderam muito naquele concerto de rock pesado que me fariam reavaliar tudo.
A mais importante dessas coisas pensadas, é o quanto o Oda, criador do One Piece, é consistente. Em 2003 ele estava escrevendo a história de Skypiea em seu mangá, apenas no volume 29 de uma história que até hoje, 20 anos depois, não se completou. E mesmo tão cedo em sua epopéia ele daria indícios da existência de um personagem que só seria revelado em 2010, e que apenas atualmente está sendo completamente explorado, fazendo com que a Pitty criasse uma música específica para ele:
O importante é ser você
Mesmo que seja estranho, seja você
Mesmo que seja Pizarro, Pizarro, Pizarro
- Pitty, Máscara, 2003
Menos importante que essa revelação divina acima, mas ainda muito valiosa, foi sensação que eu senti de que a Pitty estava falando comigo naquele show. Ela me lembrou que mesmo que eu seja estranho, tenho que ser eu, isso é o mais importante. Me lembrou também para não deixar nada pra semana que vem, porque semana que vem pode nem chegar. Então eu vou equalizar vocês, e escrever todas essas merdas que não chegam a lugar nenhum semanalmente, pois quem não tem teto de vidro que atire a primeira pedra. [Adicionar alguma baboseira sobre olhos de robô ou sei lá. Procurar as letras das músicas mais conhecidas da Pitty no Google].
Saí de lá do show prantos, correndo por entre barraquinhas beneficentes tentando esconder minhas lágrimas. Parei em uma delas para pedir um Bolinho Caipira. Eu estava com fome. Talvez por tanto chorar e sofrer. O senhor que me atendeu sentiu meu sofrimento e perguntou o que estava acontecendo. Respondi: “Eu não sei, meu caro senhor, eu estava no show da Pitty e, posso estar um pouco embriagado, mas acho que ela me pediu em códigos que eu crie um Substack, possivelmente semanal, pois se não o pai não tanka o baque”. Aquele senhor que eu nem conhecia, mas vamos chamá-lo de Antonio para fins narrativos, me olhou nos olhos com muito amor e carinho e disse “Fio, toma um quentão que passa”.
Tomei, Antônio, ou Toninho para os íntimos, tomei o seu quentão, mas não passou. Estamos aqui, não estamos? Sim Tonin, olhe em volta. Você está no meu Substack, já criado, já em andamento, já acontecendo. Então não, não passou coisíssima alguma! Mas o quentão estava uma delícia, obrigado pela recomendação e espero que meu dinheiro (nove reais) seja usado em obras maravilhosas e edificadoras na cidade de Sorocaba.
“Então é isso, esses são os motivos que me trazem aqui, Juiz, nesse tribunal. Meu único crime? Ser um completo idiota. Se você ainda acha que eu devo ser condenado, peço que me dê a sentença de morte, pois não gostaria de viver em um mundo onde eu, Madz Fox, e Priscilla “Pitty” Novaes Leone estamos errados por simplesmente existirmos.” Com as mãos trêmulas, o Juiz respira fundo e bate o martelo. Absolvido em todas as instâncias, diz ele em um brando certeiro. As pessoas que acompanhavam o julgamento comemoram na arquibancada. O Júri presente cai em êxtase. O Plantão da Rede Globo entra no ar com William Bonner de olhinhos marejados. Membros originais da carreta furacão adentram o tribunal dançando comigo em seus braços. Tudo vale a pena ser vivido novamente.
Portanto é isso aí. O estado de São Paulo, em primeira instância (não sei se é primeira instância que chama, ou se seria o estado que julgaria esse caso, não entendo nada de direito), definiu que estaremos aqui, todas as quintas às 13:13h até eu desistir daqui umas duas ou três semanas. Se você quiser acompanhar essa saga, se inscreva, clicando no botão abaixo.
O que vai ter aqui? Não sei, meus companheiros, estou apenas cumprindo ordens judiciais.