Como é de praxe em toda empreitada minha, eu acabo entrando em qualquer assunto da moda quando ele já está perto de esfriar. Mas o assunto nunca está resfriado naquela temperatura morna que ainda é possível comer sem colocar de volta no microondas, nem frio o suficiente que sua mãe já deixaria colocar na geladeira (pois comprou a teoria da conspiração que colocar coisas quentes na geladeira causam dano no aparelho). É a pior temperatura possível, onde nem pessoas que usam o Facebook ativamente conseguem mais fingir interesse no assunto.
Então, mesmo que o texto se chame “precisamos falar sobre o filme da Barbie”, eu acabei mentindo para vocês logo no título, pois na verdade ninguém mais precisa falar sobre esse filme. Tudo o que já tinha pra ser dito sobre ele, inclusive qualquer assunto paralelo ou perpendicular ao filme da boneca, já foi sugado nessas últimas duas semanas. E não digo isso tentando menosprezar o conteúdo ou mensagem do filme em si: é como se milhões de pessoas tivessem se unido num esforço coletivo para tentar esvaziar um lago chupando a água cada um com seu canudinho e tivessem conseguido completar o desafio de alguma maneira.
Mas, mesmo se existisse algo ainda para ser dito, eu sou a pior pessoa do mundo para falar sobre o assunto, pelos seguintes motivos:
1 - Assisti o Filme Dublado
Fazia mais ou menos uns cinquenta e sete anos que eu não assistia qualquer filme dublado que não fosse desenho animado, e gostaria de deixar claro que, se a dublagem brasileira realmente for uma das melhores do mundo, o mundo da dublagem está a beira de um colapso de proporções apocalípticas.
Explicação: fui assistir ao filme em uma sessão comemorativa do aniversário da minha sobrinha, onde ela chamou todos os amigos e parentes para ver junto e, infelizmente, era a única sessão que deu pra fazer isso no dia, já que a gigantesca maioria das sessões agora são dubladas. Entendo completamente existirem filmes dublados por acessibilidade ou para pessoas mais novas assistirem, mas quando isso começa a virar norma só é triste.
Qualquer cena mais séria ou com alguma mensagem mais profunda normalmente perde 95% de seu potencial emotivo ou impactante em um filme dublado. Mas nesse filme toda a parte técnica de dublagem estava um caos, a ponto de eu não conseguir entender algumas partes por mixagem zuada com som de fundo, ou por dicção ruim dos dubladores. Isso em um dos maiores filmes do ano. Absurdo.
Como eu vou emitir qualquer opinião sobre um filme onde as mensagens mais importantes me foram passadas de uma maneira que eu ficava constantemente imaginando estar assistindo um episódio de Trato Feito na Discovery History? Em certo momento eu até imaginei que a Barbie poderia pegar pelo menos uns cem mil dólares livrinho se ela vendesse o carro rosa dela pro Rick. Obviamente ele não iria querer acreditar que aquele era um carro original da Barbie em tamanho real e completamente funcional, mesmo sem motor, e chamaria um especialista. Especialista esse que provavelmente seria um homem branco de meia idade, colecionador de action figures, que abaixaria o preço do carro lá pra baixo por não conseguir verificar a autenticidade, fazendo o Rick ofertar vinte e cinco mil (talvez subindo pra trinta depois do Chumlee fazer alguma piada com a loira ser muito gata). A moça aceitaria, sem nenhuma perspectiva de conseguir dinheiro de qualquer outra forma em um mundo que ela não compreende, precisando vender tudo que ela tem de mais precioso para pessoas que não compreendem o valor do que ela está abdicando, apenas para sobreviver.

Essa imaginação toda do último parágrafo diz mais sobre a mensagem anti-patriarcado do filme do que qualquer coisa que meu cérebro consiga absorver vindo de um dublador.
2 - Fui de rosa no Cinema
É claro que isso não foi minha ideia. Também não foi ideia da minha sobrinha, que combinou com todo mundo para usar rosa como se fosse uniforme. É uma ideia colaborativa (ou quem sabe marqueteira - mas vamos deixar teorias de conspiração de baixo teor polêmico fora desse texto) onde as pessoas acabam se importando mais em dizer que estão indo assistir Barbie do que realmente assistir.
Não é uma crítica, eu acho ótimo, inclusive. Por mim só entrava no cinema pra qualquer filme se você estiver vestindo a indumentária escolhida pelo povo para o evento. O ato de você se juntar com pessoas que você gosta para fazer qualquer coisa é mais importante do que esperar uma experiência arrebatadora de um filme de Hollywood. E esse ato ser, para as pessoas, mais importante que o filme em si, não quer dizer que o filme seja ruim, ou que ele não importe para as pessoas em questão. Só importa menos, e uma análise técnica e/ou sociológica sobre um filme assistido nesses termos acaba sendo algo secundário ou até desnecessário.
É tipo ir no bar. Você pode ir em qualquer bar e beber a melhor bebida que for, mas o bar que você vai com as pessoas que você ama automaticamente vira o melhor bar, independente de como ele realmente é. Entretanto, não é por que eu amo aquele local, e amo o ato de beber ligeiramente menos que o ato de beber com meus amigos, que eu vou começar a escrever análises de Antarctica Sub-Zero Litrão ou Camel Azul aqui na newsletter.
Mas, caso alguém reclame “pô Hynx, queria muito ver sua análise de Antarctica Sub-Zero Litrão e Camel Azul aqui na newsletter” já vou me adiantar. Caso não seja do seu interesse pode pular os dois próximos parágrafos:
Antarctica Sub-Zero, quando servida bem gelada, e em sua versão Litrão, é uma das melhores cervejas que você pode tomar no boteco. Ela é aguada? Sim. Mas esse é o ponto, ela fica trincando, é muito refrescante e você consegue beber muito sem dar ressaca no outro dia. Fora isso, seu sabor não perde muito para outras cervejas de milho mais conhecidas do mercado, que acabam sendo mais pesadas e servindo menos o propósito de reunir a galera por um longo período de tempo no maior pé sujo que você encontrar.
Camel Azul é, atualmente, o melhor cigarro de filtro branco disponível no mercado. Ele tem um sabor muito agradável, principalmente para uma noitada no boteco. Seu filtro é consistente, porém não tão duro a ponto de você precisar puxar muito forte para fumar. Aqui na minha cidade é um pouco difícil de achar as vezes, mas compensa a busca para você não fumar Marlboro Lights ou Dunhill Vermelho, já que ambos cigarros se encontram em situação lamentável atualmente.
3 - Eu sou homem
“Ai, mas é que a mensagem também toca muito no que os homens deveriam fazer para melhorar a situação das mulheres na sociedade”. Talvez. Mas talvez também a mensagem mais básica seja só “fique na sua aí, meu irmãozinho”. A indústria lança trocentos filmes por ano feitos para homens (a maioria deles quase que exclusivamente para homens), botando um peido de motivação no meio para que mulheres tenham energia de ir ao cinema também. No primeiro bendito filme de grande alcance popular que é o oposto disso, eu acho uma boa ideia os homens deixarem as opiniões pessoais de lado.
Não tem absolutamente nada que um homem possa falar sobre esse filme que seja relevante. E não digo isso como um “embaixador das mulheres” ou fazendo média pra mulherada. Tudo que eu expresso aqui é opinião própria, e EU não quero ler nenhuma opinião sobre esse filme vinda de um homem. Se a mensagem do filme te tocou muito, te transformou, ou sei lá o que, eu não me importo um pentelho, meu amigo.
Se você é homem e precisa MUITO publicar alguma opinião, seja por motivos de engajamento, profissionais, ou por vício de não conseguir ficar quieto na internet, chame alguma mulher para dar uma opinião especializada no seu espaço, que aí talvez eu te dê uma esmolinha. Ou então espere o próximo filme de boneco com super poderes, ou o próximo filme de gangster do Scorsese, para emitir alguma opinião. Eu não vou ler mesmo assim, pra ser bem sincero.
Dito isso, se eu fosse falar qualquer coisa sobre o filme em si, eu diria que eu gostaria muito de ter uma Mojo Dojo Casa House do Ken. Mas não vou dizer, pois não apoio esse tipo de comportamento.
Conclusão
Portanto, me perdoem a mentira e o clickbait, mas eu não irei proferir uma palavra sequer sobre o filme da Barbie. Não acreditem em tudo que vocês leem na internet. Mesmo que vocês tenham assinado para receber essa mentira por email.
Essa semana o meu grande amigo Reck, da Newsletter “Não Tenho Gato” (leiam, assinem, compartilhem), disse que caso eu não escrevesse sobre Undead Unluck na minha Newsletter ele iria escrever na dele. Imagine a audácia desse rapaz de ameaçar roubar um conteúdo que eu nem mesmo tinha tido ideia de criar? Aqui não, meu amigo! Vou falar sobre Undead Unluck SIM. Nem que seja por cinco parágrafos, só pra você não poder, contratualmente, falar na sua Newsletter (mentira, pode falar sim, eu quero ver o que você tem pra falar).
O mangá gira em torno de um cara, Andy, que não consegue morrer, mas não por ser imortal, mas por possuir um desses poderes que começam com “Un”, que negam certos elementos naturais do mundo, no caso dele a morte. Ele se encontra com uma garota, Fuuko, que nega a sorte, fazendo com que tudo que ela ame e toque sofra consequências desastrosas. Andy, então, vê na garota a possibilidade de, caso consiga fazer ela amar ele o suficiente, trazer com um desastre a morte que ele tanto espera há décadas.
A história começa de forma desastrosa, quase Ecchi, com todos esses elementos odiosos de mangás desse estilo, que fazem qualquer pessoa em sã consciência abandonar nos primeiros capítulos. Talvez seja por esse início que o mangá até hoje nunca realmente bombou: por essa percepção inicial que a trama seguiria por rumos pouco saudáveis. Entretanto, logo antes do fim do primeiro volume, tudo começa a evoluir para uma história de proporções apocalípticas, quando começamos a entender o real impacto da existência desses Negadores no mundo, e da origem desses poderes e elementos ao redor deles.
O mangá conta com uma gama absurda de histórias muito emotivas, poderes muito inventivos e complexos, reviravoltas absurdas, e vai ficando melhor em uma curva que está em crescimento até os capítulos atuais (onde, sinceramente, se encontra na sua melhor fase). Já fecharam inclusive um anime, produzido pela David Production (a mesma que faz a adaptação de JoJo), que acredito que irá melhorar diversos dos pontos baixos do mangá, como a complexidade de algumas cenas de ação e interação entre os poderes.
Torço muito para que exploda assim que o anime for lançado, já que é provavelmente o mangá mais subestimado da Jump atual. É um mangá que eu venho recomendando desde os primeiros capítulos, quando eu senti que a história não ia ser só um Ecchizão sem sentido e sem alma, então tenho um carinho muito grande pela obra. Leiam, pois eu não conheço ninguém que pegou pra ler, passou da barreira inicial, e se arrependeu!
Então é isso por essa semana. Gostou? Curta, compartilhe com os amigos, e comente me dando aquele confete para aumentar os meus níveis de ocitocina. Odiou? Curta sarcasticamente, compartilhe com os inimigos, e comente de maneira bem irônica a ponto de eu não saber se você realmente gostou ou não. Até semana que vem!